terça-feira, 28 de abril de 2015

Redução da Maioridade Penal: a violação dos direitos dos jovens brasileiros

No dia 31 de março de 2015 o Golpe Militar no Brasil completou 51 anos, na mesma data foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados do Congresso Nacional a constitucionalidade da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 171 de 1993 que dispõe sobre a redução da maioridade penal para 16 anos no país. A proposta tramita no Congresso em conjunto com mais 38 projetos similares e ainda será analisada por uma Comissão Especial antes de ser encaminhada para a análise do Senado.

O Instituto Saci é contrário à redução da maioridade penal e a aprovação de tal proposta. Entendemos que o jovem marginalizado deve ser reintegrado a sociedade e não retirado dela. A aprovação desse projeto viola os direitos dos adolescentes que gozam de um estatuto jurídico e penal diferenciado, conforme base legal e científica.

Na prática, reduzir a maioridade penal para 16 anos é intensificar as desigualdades sociais e aumentar a exclusão, o que engrossa a política punitivista brasileira que prende jovens economicamente desfavorecidos. Recentemente, o Brasil passou o número de presos na Rússia e se tornou o terceiro país que mais prende no mundo, e esse aumento carcerário não tem alterado a violência no país. Pelo contrário, o encarceramento em massa só contribui com a violência e a exclusão dos jovens brasileiros (de 18 a 24 anos) que em 2012 já representavam 30% da população carcerária no Brasil (Ministério da Justiça)1.

Os jovens brasileiros representam uma parcela extremamente vulnerável da sociedade e, mais do que agravamento de punições, necessitam de proteção e cuidados a fim de que não sejam cooptados pelo crime ou exterminados pela violência urbana.  Segundo o Mapa da Violência (2012)[2], o Brasil ocupa o 4° lugar, entre 99 países, do ranking que classifica país que mais comete homicídios contra crianças e adolescentes, foram 8.686 crianças assassinadas só em 2010. Além dos homicídios, o estudo aponta que mais de 52 mil crianças e adolescentes sofreram maus tratos e agressões em 2011: 40,5% sofreram violência física, 17% violência psicológica, 1,9% tortura, 19,9% violência sexual, 15,8% abandono e 4,9% sofreram outro tipo de violência. Sendo que os jovens de 15 a 19 anos são as maiores vítimas de violência física e tortura. E os números de violência podem ser ainda maiores visto que os dados são do Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN – do Ministério da Saúde e pode haver subnotificação. 

Ademais, a quantidade de jovens que cometem crimes graves é muito baixa. Segundo a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) do Ministério da Justiça1, apenas um décimo dos menores infratores em 2011 tinham cometido crimes considerados hediondos, número que corresponde a menos de 0,5% do total dos adolescentes brasileiros, fato que depõe contra a percepção segundo qual eles estão alinhados como vetores privilegiados da violência. De acordo com a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, dos adolescentes brasileiros, somente 0,09 % cumprem medidas socioeducativas e, grande parte desses, cometeu crime contra o patrimônio público. Se reduzíssemos a maioridade penal para 16, iríamos gerar um ciclo vicioso que apenas ampliaria a segregação e exclusão do jovem.

Nesse sentido, é preciso garantir os direitos dos adolescentes que já ficam reclusos em instituições como a Fundação Casa. Há relatos de fuga, tortura e desrespeito às garantias básicas dos adolescentes, o que exacerba o ciclo de violência. O sindicato que representa os profissionais de educação que trabalham na Fundação Casa relata o despreparo e as péssimas condições de trabalhos em que os profissionais que atuam na instituição estão submetidos. Não há, portanto, condições de reintegrar alguém na sociedade nessas condições onde os direitos, tanto dos agentes quanto dos jovens, são constantemente violados. 

A violência e a criminalidade, vale lembrar, não são prerrogativas dos jovens, tampouco eles estão na origem dela. Entendemos que os crimes diminuirão efetivamente a partir da soma de políticas que promovam e garantam os direitos das crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. Devemos acabar com a cultura de violações e isso passa pela promoção da educação, saúde, esporte e lazer. Acreditamos, portanto, que essa articulação entre políticas públicas aliado a um debate junto à sociedade para uma mudança na cultura da violência pode mudar a forma dos jovens lidarem com situações de conflito, além de atacar as causas da violência, prevenindo-as. 


Nesse ano que a Lei 8069/1990, popularmente conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente, completa 25 anos, o Instituto Saci espera que os direitos das crianças e adolescentes sejam salvaguardados e que a sociedade avance no compromisso para que os direitos de todos em todas as fases da vida sejam garantidos.
 





[1] http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/segundo-ministerio-da-justica-menores-cometem-menos-de-1-dos-crimes-no-pais/
[2] Disponível em: http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2012/MapaViolencia2012_Criancas_e_Adolescentes.pdf

Nenhum comentário:

Postar um comentário